Povos Guarani da América Meridional


















Ao iniciar a aula sobre os povos guaranis é importante questionar se existe o conhecimento de qual região esses povos ocupam, bem como se existe uma ideia pré formada sobre o modo de vida deles. Essas questões dão base para começar a explicitar as diferentes fontes bibliográficas (etnológica) existentes sobre os guaranis, de forma a destacar o sujeito que fala e da onde ele(a) fala, para que fique evidente que existem narrativas variadas que partem de contextos sociais e históricos diferentes, e os locais de onde partem essas narrativas podem assumir caráter hegemônico que torna essencialista e subalterno aquele que é o outro. Assim, se permite aos educandos uma leitura crítica das fontes. Bartomeu Melià diferencia as narrativas da seguinte forma:  

  • Conquistador
  • Clérigos, missionários e jesuítas
  • Demarcadores e viajantes
  • Antropólogos 

Conquistador:
  • Ressaltar que são relatos que dão ênfase sobre a antropofagia e como essa informação vem a partir de um estranhamento europeu, menos preocupado em evidenciar o significado cultural para os povos guaranis;
  • Explicitar que os povos indígenas são visto como mão-de-obra para esse grupo;
  • Destacar o sistema de encomendas e como a partir dele a etnologia começa a tratar com mais ênfase das rebeliões, excluindo o genocídio e maus tratos dos povos indígenas, que a historiografia convencional também vai ignorar. 

Clérigos, Missionários e Jesuítas: 
  • Apresentar a visão errônea desses grupos ao considerar que esses povos eram ateus, pois julgavam-os por não terem templo nem imagens, incapazes de compreender uma religião baseada na palavra. Assim, eles descreviam os guaranis como supersticiosos e feiticeiros. 

Demarcadores e Viajantes: 
  • Citar os demarcadores da fronteira do Paraguai Félix de Azara, Juan Francisco Aguirre e Diego de Alvear que fizeram um arquivo minucioso sobre a província do Paraguai em 1777. Estes representavam a classe dirigente e culta da época que proclamou a independência em 1811, e que forneceram uma imagem depreciativa dos povos guaranis que influenciam visões até hoje. 

Antropólogos:
                    Explicar o desenvolvimento da antropologia guarani que começa com Nimuendajú (Curt Unkel), um estudioso que viveu e foi aceito em uma comunidade guarani, portanto, traduzindo a cultura da palavra que perpassa toda a estrutura de vida guarani. 
                  -   Atividade: Trazer a frase de Melià “(...) os guaranis não são memória nostálgica do passado, mas memória dinâmica do futuro” (MELIÁ, p.33) para reflexão em grupos na sala, posterior, pedir aos educandos que expressem sua reflexão pessoal acerca da frase, por meio de desenhos, música, poesia ou um texto narrativo em primeira pessoa. 

Povos, movimentação e territórios.
O tema busca expor um pouco da organização e estrutura dos Guarani, povo que se encontra entre o Paraguai, Brasil, Bolívia e Argentina. Com isso pode-se listar cada subgrupo e pedir para que os alunos desenhem o mapa, encontrem a localização e façam a legenda de acordo com suas localizações, assim então sendo:
 Os Mbya: com territórios no Paraguai oriental, sul do Brasil em Santa Catarina e Paraná; no litoral paulista até o norte do Rio de Janeiro e na região das Missões na Argentina.
         Os Pãi­-Tavyterã, Ñandéva e Ava Katuete: Paraguai oriental e estados do Mato Grosso do Sul e Paraná. Algumas famílias extensas dos Mbya e Ñandéva vivem nos subúrbios de São Paulo.
         Os Ache: caçadores e coletores do Paraguai oriental.
         Os povos dos Guarayos (guaraju), Chiriguanos e Izozeños na Bolívia oriental.
         Os Guarani-Ñandéva/Tapieté: no Chaco paraguaio, Bolívia oriental e noroeste da Argentina.
         Os Guarani ocidentais são grupos de Chiriguanos da Bolívia: na região do Chaco paraguaio.
Cabe também explicar o motivo de alguns grupos estarem tão dispersos pelos países, visto que não são considerados povos nômades, ou seja, explicitar que suas movimentações se deram:
1 - pela ação do homem branco que agrupava-os nos aldeamentos, lugares onde os jesuítas buscavam catequizar e diziam civilizar estes grupos;
2 – pelo deslocamento forçado destes índios para utilização de sua força de trabalho em outros lugares;
3 – devido a utilização das terras até a perda de seu potencial produtivo e consequente escassez que os fazia migrar para outros lugares onde houvesse solo mais fértil para plantação. Devemos ressaltar que dentre os três pontos supracitados é necessária uma avaliação para definir se o deslocamento foi forçado ou não.

Estrutura social.
Também é importante apresentar a relação intrínseca deste povo para com a terra onde vivem. Podemos então apresentar os conceitos de tekoha, que é o território, onde se pode ser e viver o que se é. O teko porã, que se caracteriza como um bom estado de vida, onde pode se viver bem devido a existência de harmonia e alimentos para todos no tekoha.
Dentro desse tekoha a estrutura guarani é a de família extensa, onde o casal velho, o tamõi e a jarýi, isto é, avô e avó que comandam os seus descendentes diretos (casados) e outros familiares. Quando um dos dois morre, a família extensa se divide deste tekoha e formando dois novos, este processo pode gerar conflitos pelo domínio sobre o espaço e causar a migração de algumas famílias para outros lugares. Por fim, cada família guarani vivia em uma aldeia, mas isso não quer dizer que seguissem o mesmo estilo de vida, cada uma possuía suas características de parentela, chamada de teko laja.
         O que podemos ressaltar para além da linhagem consanguínea é a inclusão de não parentes ao grupo, sendo este, então, considerado como guarani, como é o caso de Bartolomeu Melià.

         Economia e religiosidade.
         A economia guarani é feita através da reciprocidade, isto é, a troca de presentes, incluindo alimentos, pois em abundância devido a suas habilidades de produção. Exemplo disso é a chamada “divina abundância” que assim denominaram os europeus quando chegaram em Assunção, no Paraguai. Outro exemplo são as festas, onde essa abundância é dividida tanto pela festividade quanto para se reforçar os laços de amizade e trabalho em comum, tudo isso caracterizado pelo conceito de jopói, que significa “abrir as mãos mutuamente” e é a lei fundamental dos Guarani.
         Quanto à religiosidade, os Guarani explicam que foram criados no Yvy pyru’ã, centro da terra, por seu deus Ñanderu, este é pai de Pa’i Kuara, o Sol, e Jasy, a Lua. Quanto ao “centro da terra” dos Guarani, podemos mostrar aos alunos o mapa-múndi e questionar sobre os países que estão no centro do mapa e tratar da relação existente ali com a ideia da importância do lugar através do que é visto e, desta forma, fazer com que imaginem o mapa novamente partindo desta perspectiva de que há outro território no foco principal.
Produções e mapas.
Primeiro são alguns documentários sobre a cultura e situação em que se encontram os Guarani atualmente. Também os mapas da estrutura de onde ficavam aldeados. E por fim os índios que utilizam o rap como forma de contar a sua versão da história e a sua concepção do mundo cercados pelo não índio e sua relação com ele, conscientizando, lutando cada vez mais por expressão e atingindo uma quantidade maior de pessoas através do rap.

Primeiro grupo de rap indígena do Brasil, o Brô MC’s, das aldeias Jaguapirú e Bororó.

Outro grupo de rap, o Oz Guarani, que conta sobre a vida nas aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu, em Jaraguá, São Paulo.

Também Kunumi MC, ou Werá Jeguaka Mirim, que possui algumas músicas produzidas em seu canal do YouTube. Ele mora na aldeia Krukutu, entre Parelheiros e São Bernardo do Campo.

Documentário da ONU sobre os Guarani e Kaiowá:

Site para visualização de mapas das missões guaraníticas:
www.atlas.fgv.br/marcos/igreja-catolica-e-colonizacao/mapas/missoes-jesuitas-na-bacia-do-paraguai
Link com mapa das localizações dos povos guaranis:
  
 Religiosidade Guarani

 OS CONHECIMENTOS RELIGIOSOS

- São comuns mitos, crenças, hinos, rezas.
- Crença guarani, diferente da crença conhecida no mundo cristão.
- A contação de um mito, em meio a um grupo, se inicia com as palavras: Ouça, o que foi dito
(ahenduoje). Os mitos, servem como uma forma de explicação do mundo.
- Na língua guarani não se tem uma palavra que se equivale a fé. Algo que apresenta valor para eles,
é a crença de que os seres divinos irão cuidar de seus filhos na terra. 



TÉCNICAS RELIGIOSAS

- Hinos e rezas tem grande valor nesta cultura, cada um ao seu tamanho e importância. Tem hinos que
são entoados por toda uma noite. 
- São comuns rituais de cura e de sonhos lúcidos (acordados). 

- Flauta Mimby, Marakas e os takuapus são instrumentos utilizados durante os rituais

Os bastões utilizados para marcar o ritmo são o takuapu 
Vídeo gravado na reserva indígena de Rio Silveiras- Bertioga São Paulo. 



Maracá.
Flauta Mbya, mission de San Ignacio, Argentina. 


A RELIGIÃO NA VIDA COTIDIANA, ECONÔMICA, SOCIAL E POLÍTICA

-Nas comunidades Tatyterã e Nandevá o uso da religião pode ser notado em muitas circunstâncias: 
no âmbito econômico por meio da troca de comidas e bens; na relação entre vizinhos, amigos e família.
- A recitação dos hinos ajudar na resolução dos mais diversos problemas. 

-  Existe um esforço para se seguir as orientações divinas também nas decisões políticas

NÍVEIS ESPIRITUAIS 

- Experiências religiosas: para os guaranis, assunto muito importante. Só pode se manifestar quem já
vivenciou as experiências.
- Eles contam essas experiências, em uma linguagem muito própria, usando termos que só eles, e quem
compartilhou de alguma experiência, consegue compreender.
 - Comunicações divinas: além do uso da flauta, da maraka e das rezas cantadas e dançadas. Eles utilizam de meditação, sonhos lúcidos, jejum, para facilitar a recepção. As comunicações podem servir desde a revelação de plantas de cura importantes, até para a profecia do próximo fim dos tempos
  - As experiências com os seres divinos são divididas e dialogadas com todos. Quando se sonha com algo que se julga importante é normal acordar todos os membros da tekoha (ALDEIA GUARANI) para compartilhar o sonho.

 - O guarani inspira seu povo a buscar essas experiências com o divino, e esse diálogo não está apenas
no âmbito celeste, mas com os seres na terra, plantas e animais, seres que habitam montanhas e rios.


Cacique Mbyá Guarani fala sobre a natureza



CONTATOS
- Guarani não está fechado, séculos de contato tem determinado certas incorporações de aspectos
cristãos-  como por exemplo: o culto funeral, e o rito de batismo;
- Contato dos guaranis com as sociedades brasileiras e paraguaias, foi brusco, causando mudanças
rápidas, acompanhadas por processos destrutivos. Seus territórios (tetã) que tem sido parte do MT e do
Paraguai oriental foram ocupados. Foram expulsos de quase toda a região que tinham seus Tekoha.
- Desde os anos 50 seu território original está sendo desmontado por completo.
   
CONSEQUÊNCIAS: 


       -Mudanças na agricultura quebraram o ciclo religioso do ano agrícola. 
       - Já não se respeita uma árvore, pedindo permissão quando se quer cortá-la. 
    -Quase não restam árvores, e pela forma mecanizada que foram cortadas, se quebrou também o
respeito tradicional e religiosa frente à elas. 
      - Não se há mais animais de caça que se possa comunicar no solo, pedindo permissão para matá-los,
ou reduzi-los com uma pequena magia para que caiam na armadilha.
   -Após o contato e muitas perdas, houveram algumas assimilações guarani. O mitã pepy, pu Mitã Karaí é a festa de iniciação guarani Paî-Tavyterã do Paraguai- convite de los muchachos-já não é mais realizada entre os Kaiowá do Brasil.



       - A festa de iniciação ocupa espaço muito importante entre os povos guaranis. Durante 2 meses, meninos entre 10 a 12 anos ficam recluídos na ogá jekutu, casa grande para aprenderem sobre os conhecimentos e tenicas religiosas- alimentação rígida e nenhum contato de fora. Após o final da reclusão, diversas cerimonias, a mais importante é a perfuração do lábio inferior. Em decorrência da diminuição das arvores, hoje é comum ver labretes de plástico, e já não é obrigatório o uso desde por adultos e em ocasiões especiais. 



            - Mudanças: mulheres guaranis tocando maraka no brasil, instrumento antes destinado a homens. Hoje, já não se é tão comum as mulheres entoando o takuapu no chão durante as cerimônias.

      - Mitã Jegua- festa de iniciação realizada entre alguns grupos brasileiros. Sem grande período de reclusão e sem perfuração do lábio inferior, chamada por grupos kaiowá de não autenticas

    - Conhecimentos religiosos, e todos seus saberes, baseados na tradição oral. A religiosidade em comunhão ao projeto de deixar viva sua cultura e sua memória. Inspiração divina pode comunicar novos conhecimentos.



EFEITOS DAS MISSÕES NOS POVOS GUARANIS


- Serviam de proteção frente a hostilidade e preconceito das populações vizinhas
-Tratamento de novas enfermidades
- Serviam como aliados de subgrupos em situações de conflito nas aldeias.
-  A nível de conhecimento: informações sobre o mundo moderno: historia, geografia, fauna, leitura,
escrita.
- O trabalho de recuperação das terras ocupadas é grande valor para os guarani, e segue dando força
vital a cultura, a força, a religiosidade. A terra deles, ou a busca por ela, configura força e resistência
guarani, não só pela sobrevivência como pela crença na promessa da terra sem males, e na continuação
de seu povo e seus filhos.
- Mato grosso do sul, fronteira com o Paraguai. Encontram-se os Tavyterã, conhecidos como kaiowás e
os Ava-Guarani, chamados no Brasil e no Paraguai de Ñandevá.
-  A perca da floresta vai muito além do econômico. Ela representava TUDO aos guarani, desvendar
seus obstáculos e dificuldades era forma de se provar dentro da aldeia e obter prestigio. A sua perca
ocasionou a perca dos saberes vitais da floresta e dos animais.
- Em 1988 a constituição englobou o direito dos Guaranis em seu texto, porem isso não se deu da forma
justa. Seu território original nunca foi retomado, hoje, eles se encontram em áreas muito menores,
muitas sem real possibilidade de ocupação.

-  26 mil guaranis hoje vivem, em estepe árida africana, que equivalem 0,7 do seu antigo território.






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